Maoyuu Maou Yuusha Episode 2 Discussion

Myself said:
Estando um pouco desconectado dos animes, não acompanhando mais o lançamento, nem mesmo tentando, essa temporada atual que acaba de estrear teria passado despercebida se não fosse por um único anime. Quando eu vi a lista de animes para essa temporada nada me interessou, tudo me pareceu muito menininhas (no mal sentido) e continuações de séries que eu não assisti nem pretendo. Ao acaso poucos dias antes da estreia tomei conhecimento de Mayauu e sua premissa e ele me despertou grande interesse. Vi ali potencial não apenas para uma boa série, vi também potencial para uma série interessante.

Maoyuu apresenta um mundo de fantasia e aventura tradicional, mas com uma diferente abordagem do usual. Os protagonista pretendem vencer e terminar com a guerra que a muito decorre naquele mundo não pela força, ao invés disso pela diplomacia e extinguindo seus patrocinadores. Ele apresenta uma série de nações com diferentes motivos para participar da guerra entre humanos e demônios, muitas dessas nações estão na guerra por dependência de uma outra nação, outras se aproveitando delas. A soberana dos demônios, aquela quem derrotada teoricamente daria fim a guerra propõe uma aliança com um herói autônomo para ajudá-la a encontrar um fim pacífico para todos os lados.

Não é algo interessante e novo?

O Herói aparenta ser muito forte porém ignorante, e a Demônia muito inteligente porém fraca. Uma solução por uma única via não traria estabilidade ao novo mundo pós guerra, é necessário a união de força e inteligência, representada pelos dois. Pelo menos em um primeiro momento ao invés de grandes batalhas nós veríamos a luta para acabar com a fome melhorando os métodos de produção de alimentos e para instruir o povo para que eles não fossem tão dependentes da assistência dos senhores feudais.

Não teoria é uma série que merece aplausos por trazer algo de novo, justamente por isso que me dei ao trabalho de baixar e assistir aos dois episódios que já foram exibidos, porem há aqui um terceiro fator que eu não havia previsto: a má execução, tanto dos planos dos personagens quanto da própria série.

Enquanto assistia ao segundo episódio me sentia incomodado com algo que não conseguia definir de início, até que finalmente encontrei uma palavra adequada: falsidade.

Poucas vezes assisti a algo que me pareceu tão falso quanto Maoyuu. Simplesmente a série não consegue ser autêntica e sincera. Por mais que se pretenda destacar, e sua premissa seja uma promessa de farto conteúdo, confrontos de ideias e reflexão, uma promessa de algo mais intelectual raro nesses animes, Maoyuu não consegue ser tão inteligente quanto pretende.

Em linhas gerais, superficialmente a série está seguindo o prometido.

Após selarem o pacto de mútua cooperação, a Demônia e o Herói foram viver durante um ano em uma pequena vila, com seus pequenos "problemas" comuns àquela época, isoladamente o suficiente para que eles possam usar de laboratório sobre o disfarce de nobres. Ao chegar lá não espanta que eles sejam recebidos, e o elenco ganhe uma nova personagem, que é um claro e tradicional estereótipo dos animes mais comerciais que ele tenta supostamente se diferenciar, uma empregada. Uma empregada "dedicada a causa". Devo lembrá-lo que Maoyuu tem suas raízes em um tradicional fórum japonês, então não se surpreenda nem se ofenda por ver um desfile de personagens estereótipos por toda a série, em toda a parte. Eles se farão presentes, não adianta tentar resistir a eles, o episódio de estreia já fez questão de deixar bem claro que não alienará as grandes massas e dará a eles o que eles querem ver, "em fartura".

Um outro detalhe que eu também relevo, por fazer sentido, é a mansão em que a Demônia vai morar com o Herói. Ela está se fazendo de nobre, então faz sentido ela ter mais do que uma mera cabana ali, e isso também se torna necessário para que ela tenha status para poder influenciar o povo e liderança local com suas ideias e projetos. Os problemas começam a partir daí.

É natural que em primeiro lugar ela ataque o problema da produção de alimentos.

A agricultura local, usada naquela época, naquele mundo, não é eficiente. Eles conhecem alguns truques, mas são ultrapassados e pobres, sem nenhuma sofisticação nem soluções inteligentes que possam potencializar a produção. Ela quer fazer justamente isso, mais e de forma mais elegante.

Expandir a rotatividade do plantio, diversificando a produção, ao mesmo tempo conseguindo mais ração para os animais, que por sua vez produzirão mais esterco que será usado como adubo para fertilizar o solo e torná-lo mais produtivo.

É um passo além em relação o que é feito a época, envolvendo no processo a pecuária, o que equivale a um pensamento muito moderno sobre a produção de alimentos.

Até aí tudo bem, mas como a série faz isso?

A Demônia simplesmente leva o Herói até o campo para ele ver o estado em que o mesmo se encontra e explica suas intenções. Por enquanto esse desenvolvimento ficou apenas nas intenções, a agricultura será desenvolvida na prática nos episódios seguintes e podemos prever que o desenvolvimento daquela plantação poderá ser usada de metáfora para o desenvolvimento da história. Se a plantação vingar, os planos deles serão bem sucedidos, se minguarem eles falharão. E a sina da série, é essa ao que parece, as intenções.

Maoyuu não cumpre (cumprirá) as expectativas a moda das tragédias gregas. As intenções não bastam, não julgamos a série a partir das suas intenções, mas sim pelo seus atos, e a série não parece que vai agir de uma forma tão digna quanto pretende.

Fiquei com a impressão de que esse episódio teve vários cortes no conteúdo do livro para não ultrapassar a duração do episódio. Isso é normal, só que se vai fazer isso, tem que usar bem o que manter, e na minha opinião o episódio não conseguiu isso. Há uma série de problemas em cada sequência que se segue do início até o final do episódio, destacarei os principais.

- O ROMANCE

Sejamos justos, quem está comparando Mayouu, forçadamente, com Spice and Wolf somos nós mesmos. Não é intencional nem mal intencionado, fazemos essa comparação pela falta de outras obras semelhantes para comparar, e por não por acaso (não podemos negar) pela presenta de membros chave da produção de Spice and Wolf em Maoyuu, incluindo dubladores. A dubladora da Mao foi escolhida para o papel por ter dublado a Horo.

Dito isso, seria o melhor para todos nós se pudéssemos esquecer qualquer semelhança e pretensão de Maoyuu de agradar os fã de Spice and Wolf, porque no que diz respeito a um dos destaques dele, o romance, aqui ele é risível se comparado àquela outra séria. Dá desgosto ouvir a mesma dubladora da Horo no papel da Demônia, tão sem jeito, como uma criança. A cena de romance que tivemos nesse episódio não foi o que eu esperava de uma demônia e de um cavaleiro. Ela faz várias insinuações sobre a crença popular dos cavaleiros de campanha precisarem satisfazer as necessidades corporais, ou seja, sexo, levando prostitutas em campanha. E enquanto faz isso, seus gestos destoam grandemente de suas palavras, porque o que ela está dizendo ali é inequivocamente perguntar para o Herói se ele quer fazer sexo com ela, como desculpa por ela querer fazer sexo com ele. E ela faz isso se comportando como uma criança de 10 anos quando deveria ser uma mulher sedutora!

É muito estranho, é uma cena sem nenhuma sutileza, é contraditório e constrangedor.

Não preciso mencionar que o Herói se comporta como um bocó sem entender nada, preciso?

Durante a série o relacionamento dos dois deve melhorar muito com o amadurecimento de cada um, só que isso se dará de forma natural? Não me parece quando vejo a Demônia dizer de peito estufado e altiva que ela e o Herói estão casados, ao mesmo tempo que tem toda essa vergonha em seduzir o seu esposo, mesmo ela sendo uma demônia e teoricamente ter menos pudor sobre as relações carnais já que não é influenciada pelo pensamento limitante das religiões humanas.

E o Herói, é possível ser um grande e poderoso Herói sendo tão ingênuo? Gostaria de saber de onde ele tirou tanta habilidade e poder para conseguir esse status. E também, nesse episódio ele já se lamentou de no momento não fazer nada, não contribuir com a causa da esposa. De qual forma ele poderia contribuir? É um dilema. Ele irá se manter ignorante, porém útil nas batalhas? Uma força poderosa para barrar os ataques físicos é imprescindível, ele se contentará com isso e fará de forma competente como um verdadeiro herói? Irá seguir fielmente as ordens da Demônia apenas cumprindo o papel de exército ou irá prever e evitar as investidas inimigas sozinho?

Eu também gostaria de ver a reação da Demônia em um caso de falha dele, afinal, ela o enxerga como um grande herói de verdade, infalível. Ela irá amar ele tão cegamente mesmo depois de ver que ele não é tão forte assim e não corresponder as expectativas? Isso se ele não for um personagem apelão.

Essas minhas últimas considerações parecem foda de lugar, entretanto acredito que um romance também envolva cada um cumprir com suas obrigações e expectativas.


- PERSONALIDADES

A Empregada é uma personagem ridícula, ela é MUITO forçada. Ponto.

Foram absurdas as reações dela diante das meninas em fuga. É muito irritante o prazer dela de explicar tudo, TUDO, usando palavras e desenvolvimentos complicados. O que se pretende com essa forma da personagens se expressar? Mostrar que ela tem o domínio das situações, mostrando que ela analisa detalhadamente e rapidamente a situação? Entretanto uma pessoa que tem verdadeiro domínio dispensa palavras, ela age ao invés de falar e certamente não descrever os preâmbulos de sua lógica interna.

Na minha opinião pessoal de expectador, quanto mais ela fala mas se enfraquece como uma boa personagem.

Voltando a tagarelice dela na cena, para quê aquilo, era mesmo necessário fazer aquela palestra relâmpago sobre a diferença entre escravos e servos, ali, naquele local? Em um debate mal feito sobre teoria e prática, respondendo a questões que ela mesma levanta? Esse se insinua um problema endêmico da série, de personagens fazendo força para parecerem inteligentes. Esse é apenas um dos problemas dessa cena que merece um parágrafo próprio que abordarei mais a frente, no momento o importante é saber/dizer que toda aquela cena não tem lógica. Veja, para começar o Herói foi todo errado entrando naquele estábulo daquela forma, se fosse um inimigo ele teria sido morto, já me fazendo ter uma péssima expectativa das capacidades dele por causa disso. Ao chegar lá e verem que são só duas meninas maltrapilhas, o que eles fazem? O que a empregada faz? "Oh, temos que nos livrar delas ANTES QUE ELAS DENUNCIEM NOSSA IDENTIDADE".

Como é?!

Percebem, a idiota deixou bem claro que as identidades deles são falsas sem motivo nenhum! E iria enviar elas de volta para de onde as meninas vieram... deixá-las vivas, em território inimigo... tendo ouvido apenas que a identidade deles era falsa? Caralho, CA-RA-LH-O, isso é tão estúpido. Alguma vez uma única frase já conteve tantos erros em um anime?

E não deixem de reparar que em momento nenhum os personagens disfarçam suas identidades, se chamam pelos "nomes reais" o tempo todo na frente de todos.

Seguindo com os problemas da cena, o desenrolar de tudo isso. Nno momento a impressão é de que haverá ali um confronto entre lógica humana e lógica demoníaca, o que seria interessantíssimo. Apesar das intenções da Demônia serem boas ela não é humana, não pensa da mesma forma que os humanos, Haverão de aparecer sutis e importantes diferenças entre a forma das duas espécias raciocinarem sobre uma mesma questão, e aquele era o primeiro momento onde essa diferença deveria aparecer. O Herói instintivamente lidaria com a situação da forma mais delicada e gentil possível, mas para as duas demônias, uma solução limpa era acabar com a vida das meninas, e essa não é uma solução aceitável? Essa resolução colocaria em dúvida a aparente bondade da Demônia, afinal, mais cedo naquele dia ela disse que a prioridade era acabar com a fome nas redondezas para que isso não se tornasse um problema. O que seria exatamente um problema causado pela fome para ela? Ao invés de o próprio sofrimento causado pela fome seria uma situação onde pessoas famintas poderiam acabar entrando no caminho deles por necessidade e trazer a tona alguma informação inconveniente para eles? Por um lado ela quer ajudar pessoas em necessidade como aquelas meninas, mas por outro ela está ali disposta a matá-las sem remorsos? Então ela não se importa com as pessoas em si, ela se importa com a utilidade delas para o seu plano?

Embora não acho que seja possível escapar desse debate, infelizmente Maoyuu se esquivou disso ao fazer a Demônia limpar e alimentar as meninas, um gesto que mina a sua personalidade e potencial como uma parte interessante da história.

Na continuação da cena, a Empregada protagoniza uma cena ridícula com as meninas.

No fim ela só queria que eles fossem educadas? Que quando fossem descobertas pedissem desculpa por invadir a casa de alguém? Como elas fariam isso se não tiveram em momento nenhum a oportunidade? A Empregada já chegou ameaçando as meninas, é difícil soltar a voz quando se está apavorado, e mais à frente a série se contradiz. Enquanto que a Empregada parece dizer que a condição lamentável delas não é desculpa para tal ato, minutos depois durante a aula com a Demônia onde a menina mais velha está presente, é estabelescido claramente a importância da fome como motivador das ações das pessoas, insinuando que sim, a fome motiva as pessoas a fazerem coisas que elas normalmente não fariam, e especificamente "é uma desculpa aceitável", o que quebra o sermão da Empregada.

Lamentavelmente, toda essa situação piora ainda mais em canastrice e incoerência. A Emprega diz que não gosta de insetos, na tradução, pessoas sem força para sobreviverem e se sustentarem por conta própria. Ela fica repetindo isso em provocação para que as garotas retruquem, e em momento nenhum elas fazem isso. Elas não fazem e seguem as ordem ditadas pela Empregada, de pedirem, de IMPLORAREM POR MISERICÓRDIA. Como baixar a cabeça é uma demonstração de força de vontade e se erguer com as próprias pernas? É justamente o contrário, elas se fizeram submissas! E me permita perguntar, qual a diferença entre um escravo, um servo e uma empregada, quando nenhum tem vontade própria e segue ordens fielmente sem questionar, dedicando suas vidas a seu dono/amo/patrão? Não foi a própria empregada que insistiu na prática sobre a teoria?

Por favor...


- SIMPLICIDADE

Esse é um problema fundamental, que ao mesmo tempo que se destaca por si, também está presente em todos os problemas acima mencionados. Ele é extremamente identificável e aparente na Demônia.

Essa personagem simplesmente não está a altura do papel.

Ela não é uma demônia, de alta linhagem e conhecimento? O forte dela não deveria ser o de ter uma enciclopédia na cabeça, ao invés disso ela deveria ter apenas inteligência e sabedoria. Como foi que ela adquiriu o conhecimento da agricultura rotativa em 4 estágios? Isso nunca foi feito antes, então quem desenvolveu a ideia? Como ela soube dela?

O universo do anime é um mundo de ignorância, logo eu presumiria que os demônios seriam patronos da ciência, contrapondo a fé ignóbil da religião dos humanos. Eu esperaria que a Demônia ao invés de já saber de tudo e simplesmente colocar os conhecimentos em prática ela teria ideias e desenvolveria os conhecimentos. Ao invés de ela simplesmente colocar em prática a plantio em 4 estágios ela faria um laboratório, levantaria a questão se poderia ser acrescentado mais um estágio ao processo, uniria com a necessidade de produzir mais ração, e para o descarte dos dejetos surgiria naturalmente o seu uso como adubo. Como vimos, não tivemos nada disso, a personagem não é assim, ela só tem conhecimentos, mas não é inteligente, muito menos sábia. Muito diferente da Horo de Spice and Wolf.

Um exemplo disso é a cena da aula.

Qual o propósito daquela aula complicada que exige anos de conhecimentos prévios de geografia, política e economia? Ela deveria começar com o básico, já que no episódio anterior deixou a entender que conhece como os humanos atuais pensam. Ela deveria resumir toda aquela lengalenga ao cerne de cada questão.

"Uma nação declarou guerra aos demônios, ela precisa de armas que outra nação se encarrega de fornecer, e também compra alimentos extras de outra nação por falta de mão de obra, assim ela fica sem dinheiro e faz empréstimo com uma destas duas nações ou uma uma terceira em troca de aliança e proteção, aos poucos isso cria uma economia de guerra, que depende dela para prosperar."

Era algo nessa linha que ela deveria ensinar, não partir para as conclusões complexas.

Ao ver que a aula não progride, ela só consegue lamentar os alunos serem "muito burros" e não reconhece a parte de culpa que ela mesma tem naquele insucesso. Como ela pretende trazer novas ideias para o mundo se não demonstrar conhecer o básico do estado de pensamento do mundo? Como ela pode pretender ensinar novas práticas para os humanos se ela não sabe o que lhes falta?

Nisso os encontros com o ancião seriam importantíssimos, mas foram aparentemente cortados, e em caso de não terem sido aprofunda essa falha para o próprio material original. O encontro prometido no próximo episódio não parece que vai ocorrer de uma forma interessante, pelo que deu para entender a Demônia vai comprar os anciões para poder desenvolver seus projetos.

Onde está o debate prometido? A Demônia não deveria pela própria premissa da série sentar com os anciões e nos entreter com um choque de culturas e mentalidades? Mostrar o quão atrasada intelectualmente está aquela sociedade e como ela reage diante de novas ideias e sua capacidade de absorvê-las?

Sociedades sobrevivem como organismos vivos, eles precisam evoluir, através de novas práticas. Uma sociedade antiga e estagnada definha pelo apego as tradições sem capacidade de se adaptar as novas dinâmicas sociais. Nada está dando certo, mas eles só tem as suas velhas autoridades, a nobreza e o clero, para recorrer. Um deles está deslocado com as necessidades do povo, exemplo do aluno que disse que o senhor feudal se encarregaria dos alimentos, ignorando como ele os consegue, e o clero só pode orar a deus e insistir para o povo ter fé e aceitar como seu destino as desgraças. A Demônia é o frescor, a novidade, as novas ideias, uma nova visão que daria fim a esse pensamento homogenizado e forçaria uma evolução de pensamentos e práticas. Isso é o que significa mudar o mundo, o que ela pretende fazer.

Será triste continuar a ver a série fugindo de seus próprios objetivos.