Reviews

Mar 26, 2021
O que você quer fazer na sua vida?

Sinto pena de quem dropou Tomozaki. Não falo isso com desprezo nem nada do tipo, mas vi várias pessoas sendo afastadas do anime por conta dos primeiros episódios, e que pena. Que pena mesmo. É uma obra tão incrível que o pessoal acabou deixando passar.

Mas por que eu acho Tomozaki tão incrível?

Vale lembrar que eu li a light novel e posso estar um pouco enviesado, mas tentarei me manter no anime.

Primeiro, é bom dar um contexto geral no anime. Basicamente, temos o protagonista, Fumiya Tomozaki, que é o melhor gamer do Japão num jogo chamado Atafami. Ele possuía um rival online, o segundo melhor gamer, chamado NONAME, e, após derrotá-lo várias vezes, eles marcaram de se encontrar na vida real.

Chegando lá, ele descobre que NONAME na verdade é uma mulher chamada Aoi Hinami, que coincidentemente é a garota mais popular da escola do Tomozaki. Ela fica frustrada por ver que o melhor gamer era uma pessoa que desprezava o “jogo da vida” e, após discutirem, a Hinami consegue convencer o Tomozaki de que o “jogo da vida” é um dos melhores jogos existentes, fazendo com que o Tomozaki o experimente.

Em outras palavras, o Tomozaki não gosta da vida social e despreza as pessoas populares, mas a Hinami o fez mudar de ideia. E a partir daqui ele começa a melhorar como pessoa, mudando aparência, modo de falar, postura, sendo guiado pela Hinami.

Essa é a premissa. Uma pessoa solitária, que não possuía vida social ativa, que desprezava pessoas populares, e que agora está tentando virar uma pessoa popular, está tentando aproveitar a vida.

Uma das coisas que mais irritaram as pessoas foi a forma como o anime abordou isso, comparando vida social com jogos. Eu achei ótimo porque realmente faz sentido, mas muitos acharam cringe, e droparam.

Dado isso, a pergunta se repete: por que eu acho Tomozaki é incrível?

Se eu tivesse que dizer apenas uma coisa, seria o quão bem o autor consegue retratar um ambiente escolar. Já vi alguns slice of life escolares, e nenhum me pareceu tão real quanto Tomozaki.

O que me chamou muito a atenção nisso foi análise social que é feita desse ambiente. Relações sociais, hierarquia. O Yaku-sensei tocou em diversos desses pontos, e todos fizeram sentido! Quando eu assisti/li, muita desses pontos eram muito fáceis de ser visualizados na realidade. Eu fazia um “ah, então é por isso que era assim”

Por exemplo, a questão do mood e do que é certo e errado. É algo instintivo, e por isso nunca pensamos. Por que será que, numa escola, gostar de anime é errado? Isso é errado, ou é uma construção social? Será que não é que quem é popular não vê anime, e aí criou-se esse pensamento?

Não precisa ser só anime, pode ser com qualquer coisa. Quem está no topo dita as regras, e quem tá embaixo respeita. E isso no ambiente escolar é tudo, e nunca vi uma obra tocar nisso. Vocês nunca pensaram nisso? Pensem no cara mais popular na escola de vocês. O que ele fala não é quase sempre verdade? Mas será que é verdade? Ou o mood da sala torna aquilo verdade?

Outro exemplo dessa análise é na questão de como conversar. O Tomozaki copiou o estilo do Mizusawa de “provocar” as pessoas para tornar a conversa fluida. E isso funciona pq eu sempre fiz isso kkkkkkkkkkk. Você pega um “problema” que a pessoa tem e brinca com ela sobre. Por exemplo, eu tenho diabetes, então o pessoal me zoava por causa disso. Brincadeira saldável, sem passar dos limites.

No anime, brincavam com a Hinami por ela gostar de queijo, ou com a Mimimi ser “airhead”. Esse tópico em específico é abordado mais pra frente na novel, então pararei por aqui.

Tem várias outras coisas que posso falar, como conversas no zap, redes sociais, aparência, grupinhos e panelinhas, mas já deu pra notar que o aspecto social é absurdamente bem feito e muito bem estudado, então só por isso já vale a pena conferir.
E o que seria do ambiente escolar sem os estudantes, e como cada um se porta?

Aqui é onde, na minha opinião, Tomozaki brilha. Como cada pessoa lida com as circunstâncias da vida? Como da pessoa encara os desafios em sua frente? Como cada pessoa pensa sobre isso? Usarei como exemplo alguns personagens.

Mimimi. Ela tem um arco apenas pra ela, e é nesse arco que eu me apaixonei por Tomozaki. Ela é caracterizada como uma garota brincalhona que era muito fácil de conversar, que não se abalava com nada. Mas não era bem assim...

O conflito interno dela era sobre sempre ser a número 2. É algo bem palpável para muita gente, pois todos somos minimamente competitivos. Todos nós já demos nosso melhor para atingir a liderança, mas nem sempre conseguimos e, pior, nem sempre somos reconhecidos. Mesmo sendo a número 2 em tudo: esportes, atletismo, popularidade, ela quase nunca é lembrada. Sempre lembram da Hinami, mas nunca dela, nunca. Mesmo ela tendo se esforçado. Mesmo ela tendo batalhado para isso. Mesmo ela dando seu máximo. E ninguém lembra. Os holofotes vão para a Hinami.

E não é assim na vida real? Quem lembra do vice-campeão de um torneio? Apenas o campeão é lembrado, por mais que o vice-campeão seja um excelente time também!

E, uma hora, você se cansa. No caso da Mimimi, ela nunca tentou ativamente confrontar a Hinami. Ela estaca tranquila apenas no 2 lugar, mas uma hora não dá mais para segurar. Você vai, ativamente, tentar ganhar a liderança. E foi o que ela fez: ela se candidatou à presidência do Conselho, junto com a Hinami. É uma postura muito corajosa da Mimimi, porque a adversária é a heroína perfeita. E isso não é algo fácil de se fazer. E tem algo a mais além disso. A Mimimi não mostra que está se forçando, muitas vezes chegando ao ponto de exaustão. E tudo isso porque ela queria derrotar a Hinami.

Acabei falando muito da Mimimi, mas ela merece. O Yaku-sensei trabalhou de forma muito madura uma das ansiedades mais presentes nos adolescentes hoje em dia, e eu valorizo muito isso! É muito palpável e compreensível. E a resolução desse conflito é magnífica! Me arrancou algumas lágrimas.

Outra personagem que gosto muito é a Izumi. Ela personifica uma mentalidade muito presente nos adolescentes também: a de que só aceita o que é dito. Sabe quando o pessoal na sala vota por alguma coisa, mas você não concorda. E o que você faz? Apenas aceita e não questiona. É exatamente isso que ocorre. A Izumi é o tipo de pessoa que apenas aceita o que é dito, que é levada pelo mood. Eu sou bem parecido com ela na real. É foda você querer falar que não concorda com algo e não falar por medo de ser julgado pelo mood que permeia o ambiente. Acho que todos, uma vez, já passaram por isso.

Agora, vou falar sobre 3 personagens pra poder exemplificar o título da minha review: O que você quer fazer na sua vida?
Primeiro, Tomozaki. Quem viu o anime, viu como ele mudou absurdamente. O discurso dele contra a Erika é o maior exemplo disso. Ele passou de uma pessoa que odiava o jogo da vida pra alguém que o experimentou e gostou! E a Erika cagou pra isso! Ela personificou a ideia de falar mal de algo que nunca experimentou e negar os esforços das pessoas, e isso enraiveceu o Tomozaki, porque ele é a prova viva de que esforços são capazes de mudança.

Ele mudou seguindo as tarefas passadas pela Hinami. Uma delas em específico mexeu com ele, que era a de namorar a Kikuchi. Ele realmente gostava da Kikuchi? Era isso o que ele queria fazer?

Esses questionamentos vieram do Mizusawa. Ele era um personagem parecido com a Hinami, de ser “perfeito” e sempre conseguir o que queria. Mas houve um problema: ele gostava da Hinami. E ele se declarou pra ele, e foi rejeitado. Mas ele desistiu? Não. Sendo a primeira vez que ele não conseguia algo, ele tomou a decisão de perseguir seu sonho, de ativamente buscar o que ele queria. E isso mudou o pensamento do Tomozaki

Porém, isso ia contra os da Hinami. Ela priorizava o pensamento lógico e racional, não se importando com o sentimento das pessoas. Fazer o que você quer? Pffffffft, pra ela isso não existia. Havia apenas um caminho, que era o caminho de sucesso, racional e lógico.
Eles discutem e bla bla bla, até o final que é quando o Tomozaki fala pra ele que ele vai provar, que você pode ter sucesso na vida buscando o que você, de fato, quer fazer!

E essa é a mensagem que eu tiro de Tomozaki. O que você quer fazer na sua vida? Você quer seguir um caminho que te leve para o sucesso, mesmo negando seus desejos e vontades pessoais? Você quer focar nos seus desejos e não no caminho de sucesso? Você quer tentar ambos?

E é isso. Resumindo, Tomozaki é uma ótima representação do ambiente escolar, sendo extremamente fiel ao que o compõe e retratando de forma madura as consequências disso e em como cada estudante é afetado. Não só isso, é uma ótima história que nos ensina que esforço traz resultado, e que só reclamar na cadeira que a vida é ruim não vai adiantar de nada.

Então, sim, vale a pena ver Tomozaki e recomendo a todos que vejam. De quebra, vocês podem ir ler a light novel também hehe.
Reviewer’s Rating: 8
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